Cumbuca Bares e Butecos de Campinas

Publicado 19/7/2010 (quando o site retornou ao ar)

O botequim é o primeiro comércio surgido no Brasil. Surgiu, provavelmente, no improviso como quase tudo neste país. Um dia, um português, dono de armazém, colocou uma tábua como balcão e passou a servir vinho verde com sardinhas para os maridos que tinham ido comprar a verdura ou o legume do almoço. Vinho vai, vinho vem, a conversa não tinha fim: o primeiro freguês, mito fundador de todos nós, começava falando mal da mulher, logo criticava o técnico do seu time, o presidente da república, o preço do feijão… E terminava chorando no ombro de um desconhecido, fazendo uma confissão que nem ao padre faria. E este desconhecido, por um momento, se transformava num amigo de infância.

Por tudo isso, não é exagero dizer que a civilização brasileira nasceu em meio a estas conversas intermináveis pelos bares, botecos e botequins, regadas à cerveja e cachaça, que atravessaram a noite dos séculos e nos deram uma identidade nacional, no jeito de ser, de amar, de sentir, de sofrer, de cantar, de comer e de brindar a vida. O botequim nos fez brasileiros na medida em que proporcionou uma experiência cultural num espaço de convívio essencialmente democrático. O autêntico botequim mantinha (e ainda mantém, apesar de vir perdendo terreno para seus simulacros) a porta sempre aberta para gente de todas as idades, etnias e classes sociais.

O Cumbuca valoriza o botequim porque reconhece nele um elemento fundador da brasilidade, tão nosso quanto a cantina é italiana e os cafés são franceses. Somos contra a transformação do boteco em fetiche, em moda, em onda passageira, em artigo de luxo para poucos e selecionados. Quando o jiló passa a ser vendido a preço de caviar, quando os seguranças na porta se dão ao direito de barrar a entrada de alguém por causa da roupa ou da cor da pele, quando perdemos a intimidade quase familiar que tínhamos com o dono do boteco para sermos tratados como meros consumidores, que o boteco perdeu a sua função social. Deixou de ser cultura para se tornar um grande negócio, um empreendimento.

A princípio, não somos contra os grandes negócios e os empreendimentos. Mas aqui, neste espaço, queremos valorizar os ambientes que ainda mantém vivos, cada qual ao seu modo, o espírito democrático do botequim, a autenticidade presente numa arquitetura preservada, no despojamento de uma decoração, na longevidade de uma receita de família que atravessou gerações, na relação de amizade e confiança estabelecida entre proprietários e clientes. Estes botecos são cada vez mais raros nas grandes cidades.

Muitos não conseguem fazer frente à tentação fácil do lucro, outros sucumbem diante da especulação imobiliária. Mas há os que resistem bravamente e seguem como um espaço de resistência da brasilidade.

O Cumbuca veio para documentar a existência destes pequenos comércios populares e evitar que suas histórias se percam no tempo. Mas também não pretendemos fazer propaganda deles, no sentido de recomendá-los para quem não conhece as regras da boa convivência dos balcões. Há que se chegar de mansinho, sem interferir na rotina do lugar, respeitando os que chegaram primeiro e mantendo a discrição.

Não queremos inventar moda. Também poderemos destacar barzinhos, bares maiores e mais conhecidos, desde que sejam tradicionais e que ofereçam um bom cardápio, um bom chope, uma boa história.

Agora chega de papo, molhemos as palavras!
Vejam o guia e escolha o próximo bar ou boteco que irá visitar.

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